quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Defesa de Sócrates


"Se me oferecêsseis o perdão nestes termos, minha resposta seria: 

"Atenienses, tenho-vos em alta afeição e estima, mas prefiro obedecer aos céus e não a vós; portanto, enquanto eu tiver ânimo e força em mim, não deixarei de buscar a sabedoria ou de exortar-vos a buscar a verdade, apontando-a a qualquer de vós que eu casualmente encontre, com minhas costumeiras palavras: Meu bom amigo, tu és cidadão de Atenas, uma grande cidade, famosa por sua sabedoria e poderio; não te envergonhas de te ocupares tão arduamente da acumulação de riquezas, honrarias e reputação, sem nada dedicares à sabedoria, à verdade e à perfeição de tua alma? 

E se ele protestar que não se importa com essas coisas, não o liberarei de imediato, seguindo o meu caminho; vou questioná-lo, examiná-lo e testá-lo, e se me parecer que ele não possui a virtude que pretende ter, vou censurá-lo por ver como inúteis as coisas mais preciosas, e como valiosas as mais indignas. isso farei a qualquer um que encontre, jovem ou velho, cidadão ou estrangeiro, mas especialmente a vós, meus concidadãos, já que sois meu próprio povo. Pois tende a certeza de que tal é o desígnio dos céus; e acredito que a maior dádiva com que a fortuna já contemplou Atenas foi meu engajamento ao serviço dos céus. Pois minha única tarefa é persuadir todos vós, jovens ou velhos, a vos dedicar menos aos vossos corpos e à vossa riqueza, e mais à perfeição de vossas almas, fazendo disto vossa primeira preocupação e vos dizendo que a bondade não provém da riqueza, mas é a bondade que transforma a riqueza ou qualquer outra coisa, em público ou na vida privada, em algo valioso para o homem. 

Se, ao afirmar isto, estou corrompendo a juventude, tanto pior; mas, se afirmardes que eu nada mais tenho a dizer, estareis faltando com a verdade. Portanto, atenienses, digo eu concluindo, 'podeis ou não dar ouvidos a Anito; podeis ou não condenar-me; mas não mudarei meu comportamento, mesmo que eu tenha que morrer mil vezes."

Apologia de Sócrates, Platão.

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