segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Pressupostos e implicações do amor


Se alguém nos perguntasse sobre qual é o traço principal do Cristianismo, penso que não seria difícil responder: é o amor. É uma resposta simples, mas que, se bem compreendida, já nos diz muita coisa. Vejamos..

O amor pressupõe necessariamente o conhecimento. Eu nunca posso amar algo que eu não conheço. Imagina que louco eu amanhecer amanhã apaixonado por uma japonesa que nunca vi na vida! Isso não é possível. Eu só posso amar o que eu conheço.

E a faculdade de conhecer se orienta para o que mais a não ser para a verdade? Quando perguntamos alguma coisa a alguém, o que desejamos? Que este alguém nos minta? Será que nos satisfazemos quando chegamos a conhecer algo que sabemos que não é verdade? Quando o marido chega em casa atrasado e diz à mulher que estava na sinuca, é comum ela ficar tranquila, mesmo que sinta um perfume estranho e feminino no ar? É óbvio que não. Se nós de fato podemos conhecer alguma coisa, é sempre a verdade que nos interessa.

Aqui já é possível notar a íntima relação entre amor e verdade. Não à toa, Bento XVI escrevia sobre isso na sua Encíclica Caritas in Veritate. Se o amor pressupõe o conhecimento e se este se orienta naturalmente à verdade, então significa que a verdade é anterior ao amor, de modo que um amor que não prime pela verdade carece de seu fundamento.

Vimos, então, o que, por assim dizer, está por trás do amor. Agora, observemos aquilo que se segue naturalmente a partir dele. Quando amamos alguém, nós não conseguimos ficar indiferentes à pessoa. No Pequeno Príncipe, de Saint Exupery, a raposinha diz ao menino: "se não me cativas, serás para mim como outros mil. Mas, se me cativares, serás para mim único no mundo." O amor transfigura a pessoa amada aos olhos do amante. Isso faz com que este se devote àquele, isto é, busque fazer algo por ele. Podemos dizer que o amor nos leva a agir e não só: ele nos leva a agir em função do outro.

Vejamos isso de perto: agir é sair de onde ou de como se estava. O amor exige um movimento. Portanto, ele faz deixar de se ser o que se era. Isto implica dizer que, de algum modo, ele leva ao sacrifício do que se era. E como age em função do outro, ele faz o amante sair de si. Neste ato de sair de si, o amor é letal ao egoísmo, que segue uma lógica absolutamente contrária. Ao sair de si, o amante quebra uma tendência que está com ele desde que nasceu: a de guardar-se sempre dentro de uma redoma de interesses próprios. Este era o seu mundo. O amor, provocando este sair de si - que é a definição de êxtase - apresenta ao sujeito as luzes e os ares de uma dimensão transcendente, isto é, que está além daquilo que até então ele conhecia. É daqui que pode surgir a contemplação. Esta só nasce quando há a junção de amor e desinteresse.

Desprendendo-se de si, a pessoa sai de si e vai em direção ao outro. E vai em direção ao outro para quê? Não para sugá-lo, mas para ser-lhe útil. O amor, portanto, ordena-se ao serviço e serve bem quem é humilde. Então vejamos onde chegamos:

O amor pressupõe o conhecimento e se ordena ao serviço. Curiosamente, é o que nos diz o Catecismo da Igreja: O sentido da vida humana é conhecer, amar e servir a Deus.

3 comentários:

Anônimo disse...

Se uma pessoa diz que ama uma outra pessoa, mas permanece egocêntrica, pode-se pensar que não há amor de fato?


Ah, ficou muito bacana a mudança no blog!

Fábio Graa disse...

Obrigado pelo elogio à nova aparência do blog.

Bem, depende. Em geral, o egocentrismo da pessoa vai até um estágio, pois um total egocentrismo levaria à loucura, literalmente.

Se, portanto, o egocentrismo não é total, sobra algum espaço para o amor. Além disso, há egocentrismos circunstanciais e sob os quais pode estar, em estado dormente, um amor real, mas que atualmente não respira devido àquelas circunstâncias.

Mas para despertá-lo, seria preciso acordar, pois o egocentrismo é como um sono despercebido. Como o amor prima pela realidade, o egocentrismo distorce a realidade. Daí que eles são opostos também nisso. Acordar, então, seria o modo de redespertar o amor. E, assim como alguém que dormiu por bastante tempo sente o desejo de exercitar-se e fruir do estado de vigília, assim o amor redesperto tende a ser mais forte e seguro.

O modo, porém, deste despertar é um tanto dolorido.

É como eu vejo.

Pax.

Anônimo disse...

Tks :)

Pax.