sábado, 10 de dezembro de 2011

Auto-Conhecimento, Humildade, Virtude e Julgamento


O negócio é assim: se temos o mínimo de conhecimento próprio, perceberemos em nós certas inclinações ao egoísmo, à sensualidade, etc. Não é assim? Quanto mais conhecermos a nós mesmos, mais deixaremos de ser intolerantes com as fraquezas dos outros e tanto menos nos escandalizaremos. Esse negócio de ficar "chocado" com certas coisas que, embora graves, não são nada de outro mundo, é próprio de quem ainda vive na superfície de si mesmo. Muito mais grave é a soberba quando se reveste de uma aura de farisaísmo. O pecado, por vezes, nos permite vermo-nos tais como somos e isto pode desempenhar uma importante função didática. Neste sentido, os padres do deserto dizem: "Que o teu entulho seja teu pedagogo".

Antes de prosseguirmos, é importante esclarecer: a humildade é a raiz de toda e qualquer virtude. Toda e qualquer! Já a soberba é a mãe de todos os vícios. A virtude, quando existe, é algo desde dentro. Não é suficiente uma mera encenação ou uma só uma aparência. Por isto, quem não se dedica a conhecer-se, não pode ser virtuoso, porque não será humilde, uma vez que não conhece as próprias mentiras nem os disfarces do próprio egoísmo. Este sujeito termina por enganar-se a si mesmo.

E aqui quero remontar a duas coisas. A primeira, à recomendação de Deus Pai a Santa Catarina de Sena: "Jamais abandones a cela do autoconhecimento". Já sabemos por que. A conclusão é a mesma da de cima: sem auto-conhecimento não há verdadeira humildade e sem humildade não há virtude.

A segunda: os padres do deserto eram homens bastante solitários. Porém, eles organizavam, anualmente, algo correspondente aos capítulos das Ordens e Institutos. Num destes encontros, vários monges haviam se unido na acusação de um dos padres, por um suposto erro cometido por ele. Durante o curso da discussão, um dos monges permanecia silencioso no canto. Ele, curiosamente, trazia um saco cheio de terra. Interrogado sobre a sua opinião, ele pôs o saco nas costas e disse algo assim: "se eu estou ocupado com o meu saco e conheço o seu peso, o pouquinho de terra que eu vejo fora de mim não me incomodará. O que eu tenho nas costas é bem maior e já me mantém ocupado."

Ouvindo-o, os demais monges todos concordaram: "Este é o caminho da verdade", pelo que encerraram o concílio e abandonaram o assunto. 

Temos de ter cuidado com o farisaísmo. Nosso Senhor já nos havia dito: "Se vossa justiça não for maior que a dos fariseus, não entrareis no Reino". Não se trata, obviamente, de relativizar qualquer que seja o erro. Todo tipo de pecado, se é pecado, é absolutamente repugnante. Mas, outra coisa é escandalizar-se. Se conhecermos as inclinações da natureza humana decaída, teremos um olhar mais tolerante, não com pecado, mas com os que cometem erros.

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