terça-feira, 15 de março de 2011

Vi algo do Mistério


"Eu não soube onde entrava. Porém, quando ali me vi, sem saber onde estava, grandes coisas entendi" 
S. João da Cruz

Hoje de manhã, acordei com o som do rádio, onde uma conhecida minha dava entrevista sobre assuntos relacionados à Psicologia. Isto, de algum modo, já me inquietou, pois, além do som alto como estava, eu peguei uma tal aversão por essas conversas de psicólogo desde que eu saí do curso de Psicologia que não é sem repugnância que ouço ou leio certas teorias pretensiosas.

Levantei-me, tomei café e fui ter a minha primeira aula de Partitura. Rs... Sempre quis aprender esse negócio e, de certo modo, eu tenho culpa por ainda ser analfabeto nisso. Digamos que, mantendo a analogia, eu saberia apenas ler certas palavras. Mas só. Simultaneamente à aula, eu soube que iria ter Santa Missa na Casa dos Pobres, uma instituição que cuida de idosos carentes, e isto me fez ir à aula com o coração meio dividido, pois eu já tinha marcado e ontem mesmo o professor me garantiu que iria.

Cheguei um pouco cedo e pus-me a esperar. Como a hora se aproximasse e o professor não desse as caras, um colega tratou de ligar para ele e ficou a saber que ele não viria. Tinha vencido a sua habilitação e ele estava em outra cidade, resolvendo a sua situação. Não fiquei de nenhum modo triste. Antes, saí dali e pus-me a correr em direção ao lugar onde se dava a Santa Missa. Graças a Deus, embora suado, cheguei a tempo de assistir a celebração e comungar.

A comunhão hoje, realmente, se deu nas trevas da Fé. Me vi meio indisposto para qualquer recolhimento interior. No entanto, como é bom quando se sabe que a eficácia da Comunhão com Nosso Senhor, e da oração em geral, não dependem destes fatores sensíveis. Quando, porém, eu abrí os olhos, pus-me a notar os presentes, muitos deles residentes daquele lugar. Velhinhos humildes, tão simples... À minha frente, uma senhorinha usava uma touca por baixo da qual se via seus cabelos branquinhos. Com o olhar calmo, ela percorria o ambiente, fitando os demais. Por trás de nós, uns vovôs assistiam tudo de um sofá, à frente do qual havia um que repousava numa cadeira de rodas. Fiquei a observar um pouco a senhora à minha frente. Não obstante o seu aspecto tão frágil, era ela uma alma imortal. Que grandeza! Que mistério! Comparado a isto, o que são Freud, o sofista, e seus similares? Aquela pequenez e humildade que eu contemplava bem à minha frente parece que lhe adensava a alma, quase a ponto de torná-la visível. Que belo! Alguns dirão que isto são coisas de um católico romântico e imaginativo, rs. Não me importa o que acham, não to afirmando que entrei em êxtase ou que vi qualquer coisa supranatural. Nada disso. Mas é interessante notar que eu me pus a contemplar estas pessoas justamente depois da Comunhão.

Terminada a Santa Missa, eu fui saindo e parei ao lado do senhor de cadeira de rodas. Depois de hesitar um pouco, lá fui eu e o cumprimentei. Era uma figurinha terna, visivelmente acostumado à dor e, sem dúvida, à solidão. Como visse a minha mão estendida em sua direção, sutilmente segurou a minha. Feito isto, eu ouvi a sua vozinha, fraca e vagarosa, a dizer-me: "Deus te abençoe"... Ah.. era o Cristo.

Retribui-lhe a saudação, cumprimentei os demais e rumei para casa. Meio comovido, fiquei a pensar em certas coisas. Na minha covardia e no amor terno e insistente do Cristo... Isto foi como um abraço num filho rebelde. E então a rebeldia perde a razão de ser...

Agora, enfim, como me parece ridículo o ateísmo. Como estes sujeitos que se auto-proclamam inteligentes são, na verdade, uns obtusos. O Mistério, caríssimos, está em toda parte. E hoje, Ele veio a mim na Eucaristia e, depois, na simplicidade de uns velhinhos. Bendito seja Deus.

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