quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ó alma que és como um cavaleiro...

São constantes as batalhas que temos de enfrentar conosco mesmos... Percebo que temos que ser, ao menos na alma, bons artistas marciais, no verdadeiro sentido do termo... Neste processo, forçoso é que amadureçamos, que cresçamos e dos cristãos certas coisas são particularmente exigidas.

A beleza de uma vida imersa nestas lutas, embora talvez tão evidente a quem olha de fora, parece imperceptível ao que as enfrenta... Covardias, medos, egoísmos, formas mil do amor próprio... Por vezes, a coisa se torna bem dolorida e, tristes, arriscamos uma olhadela para o céu, numa hesitante expectativa daquela a quem São Francisco chamou a "irmã morte". Creio que são nestes combates que a morte vai perdendo seu caráter assombroso....

Nosso Senhor é um ótimo pedagogo... Na Grécia Antiga, aos candidatos a filósofos, era necessário que fossem formados também em Educação Física, que mais não era que a vida militar. Isto lhes servia para perceberem a fragilidade de seus corpos e a efemeridade da vida; uma vez que o fizessem, estariam em melhores condições de se elevarem às realidades imutáveis, a olharem pra cima, motivo pelo qual tinham que estudar também a astronomia.

Nosso Senhor faz algo semelhante. Ricardo de S. Vitor faz notar que, na Sagrada Escritura, o livro do Eclesiastes no qual este sentido do caráter passageiro é tão gritante, vem exatamente antes do livro do Cânticos, cujo simbolismo nos eleva àquelas terras bem-aventuradas e ao convívio dAquele que será a delícia dos nossos dias.

Ao lado das brilhantes promessas da Vida Eterna, Nosso Senhor nos faz ver, com clareza singular e, às vezes, grandemente incômoda, o nada desta vida. E as lutas continuam... A paz por vezes é pequena trégua entre as lutas... Vezes há em que ficamos muito aborrecidos e, talvez, decepcionados, e entre estas lutas, onde não escutamos nenhum fundo musical e onde, talvez, momentaneamente, suma de nossos olhos qualquer horizonte, Ele está a nos fortalecer, a nos amadurecer, a nos lapidar, silencioso, escondido, como sempre foi do Seu feito fazer...

É então que Ele nos sussura: "nada temas; crê somente".

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